A FÊNIX- MORRER PARA RENASCER

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A FÊNIX- MORRER PARA RENASCER

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A Fênix: Morrer para renascer 

Revista: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 481 - Ano 2002 - p. 241

 

O ser humano tende a fazer do visível o trampolim para ilustrar o invisível. No folclore de muitos povos há estorietas fictícias cheias de sabedoria; entre elas, a lenda da fénix, que já Heródoto (séc. V a.C.), poeta grego, contava, e que a tradição cristã assumiu como significativa da ressurreição de Cristo e, indiretamente, dos cristãos.

Eis o seu teor: Havia no longínquo Oriente, um país muito feliz, cujas portas se abriram para o céu. Nesse país não existia nem doença nem sofrimento nem morte. Lá se achava um bosque habitado por um pássaro maravilhoso, a fénix, que cantava todas as manhãs, saudando o nascer do sol. Eis, porém que de mil em mil anos sentia o desejo de morrer para renascer.

Deixava então o seu sagrado recinto e vinha pra o nosso mundo, onde reina a morte. Voava então para a Síria (Fenícia); lá escolhia uma bela palmeira, na qual confeccionava seu ninho, ou melhor, seu túmulo; recomendava sua alma à Divindade e permitia que seu corpo fosse consumido pelo fogo e assim reduzido a cinzas.

Destas ressurgia um verme, que se transformava em borboleta e, finalmente, em nova fénix. Tendo renascido a partir das próprias cinzas, a fénix retomava o vôo e ia levar os restos do seu velho corpo até o altar do sol em Heliópolis no Egito; aí oferecia-se em espetáculo às multidões, que a saudavam exultantes. Por fim, retornava ao seu país no Oriente.

Ora essa lenda foi utilizada por S. Clemente Romano (+cerca de 97), Tertuliano (+ 220 aproximadamente), Latâncio (+ após 317) e outros autores cristãos, assim como pela iconografia, para ilustrar a ressurreição de Cristo: Deus Filho veio do "paraíso" ou do estado de felicidade celeste a este mundo, onde reina a morte.

Aceitou morrer, mas voltou à vida num corpo glorioso, com o qual retornou à "casa do Pai". Assim Ele demonstrou aos homens que a morte não é morte, mas, sim passagem para nova vida. Conseqüentemente o cristão vê na lenda da fénix uma imagem da sua própria ressurreição, configurada à de Cristo.

Como dito, a estória da fénix tinha significado também para o homem grego pré-cristão, pois foi primeiramente concebida pelo poeta-teólogo Heródoto. Isto que dizer que no mais íntimo de cada homem, independentemente da sua crença religiosa, existem a aspiração e o senso da imortalidade; existe o anseio de superar a morte e conseguir a athanasía, que segundo os gregos, era privilégio dos deuses.

Essa vitória sobre a morte é concedida por Cristo a todos os homens, aos quais Ele promete a ressurreição da carne.

Verdade é que certos ambientes gregos pré-cristãos, impregnados de dualismo (cf. 1Cor 15), dificilmente aceitaram a idéia de volta ao corpo ou ressurreição. Prevaleceu, porém, a concepção de que o corpo é elemento integrante do ser humano e deve Ter parte na sorte final do indivíduo.

A lenda da fénix transfigura a morte, fazendo dela passagem para a plenitude da vida. "Ó feliz ave, que obteve a vida eterna mediante o benefício da morte!" (Latâncio).